É comum dizer-se que certo paciente tem “asma proustiana”, quando é grave, quase fatal
Em novembro passado, fez 100 anos que Proust lançou o primeiro tomo denominado No Caminho de Swann, de sua magnífica obra Em busca do tempo perdido.
Proust era asmático, e sua asma era do tipo grave, cujos ataques o levavam frequentemente às portas da morte. Atacava-o mais à noite, por dias e dias infindos. É comum dizer-se que certo paciente tem “asma proustiana”, quando é grave, quase fatal.
Ele descreveu bem suas crises nas incontáveis cartas que enviava à sua adorada mãe e amigos, conforme refere Mark Jackson em Asthma The Biography (Oxford University Press, 2009), em que transcreve pequenos trechos: “Minha querida mamãe. Um ataque de asma de violência e tenacidade inacreditáveis me acometeu na noite de ontem, que me fez ficar de pé, muito cedo da manhã” (Proust, cartas 1900); “Mamãe, tão cedo cheguei a Versailles, sofri um ataque de asma horrificante, que me fez ficar sem saber o que fazer ou onde esconder-me. Daí até agora os ataques estão horrificantemente contínuos.” (26/8/1901). Nessa última citação, observa-se o quanto os asmáticos tinham e ainda têm de vergonha de suas crises incapacitantes, e evidenciava-se o preconceito contra asmáticos, que felizmente hoje estão com dias contados.
Pompeu de Toledo, na Veja (18/11/2013), no seu artigo A Honra da Pátria, informa que Proust teve um médico brasileiro, provavelmente cearense, o dr. Domingos Jaguaribe. Este teria tentado “curar” a asma do celebrado escritor pelo uso de plantas brasileiras, supostamente com poderes curativos, para certas doenças, sob a forma de inalações. O fato não se consumou, segundo refere o próprio escritor em O Caminho de Guermanies (em Toledo, VEJA, 18/11/2013).
À parte as tentativas de cura da asma de Proust, uma coisa é certa: se o admirável escritor tivesse controlado sua asma com as ervas do cearense, ou vivesse hoje em Fortaleza, sendo atendido no Programa de Atenção Integral à Criança e Adulto com Asma de Fortaleza (Proaica 2013) da Secretaria Municipal de Saúde, que já começou a atender e controlar a asma dos nossos irmãos fortalezenses; ou mesmo no Programa de Controle da Asma Grave e de Difícil Controle do Hospital de Messejana, o Procam-SUS, provavelmente fosse ficar definitivamente, sem crises, vindo talvez a preferir viver no seu mundo socialite, a passar dias confinado, criando e escrevendo maravilhas. Ganharia sua saúde, mas perder-se-ia sua estupenda obra. Proust morreu em novembro de 1922, de pneumonia e abcesso pulmonar.
Dra. Márcia Alcantara Holanda
Médica Pneumologista
Coordenadora da Comissão de Asma da SCPT
pulmocentermar@gmail.com
Fonte: O povo