Doença é responsável por 40% dos casos de transplantes de fígado.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) existem 400 milhões de pessoas infectadas com o vírus da hepatite B ou hepatite C em todo o mundo, 10 vezes do que a quantidade de pessoas infectadas com HIV.
No Brasil, apenas com o vírus C, cerca de três milhões de pessoas já foram infectadas, o que daria para encher 50 estádios do Maracanã. A doença é a principal causa de transplantes de fígado, respondendo por 40% dos casos. O vírus pode ainda causar cirrose, câncer de fígado e a morte do paciente.
O mais grave é saber que apenas uma a cada 20 pessoas infectadas sabe que é portadora do vírus da hepatite. Segundo a médica infectologista Cláudia Lourenço, do programa municipal de DST/Aids e hepatites virais, apenas em Campinas foram registrados 8516 casos entre 2000 e julho de 2016.
A transmissão da doença pode acontecer quando se compartilham utensílios como aparelhos de barbear, alicate de unha ou cutícula, seringas e também quando se usa material não esterilizado na colocação de piercing, por exemplo.
“Os vírus da hepatite B e C são transmitidos através do sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas e seringas, por relações sexuais desprotegidas e de mães infectadas para os recém-nascidos. Muitos casos não são registrados e esse é um problema mundial. Sem contar que a maioria das pessoas que têm o vírus não sabe da contaminação”, lamenta a infectologista.
Ela explica que de cada 10 pessoas contaminadas com o vírus do tipo C, apenas duas serão curadas de forma espontânea. Os outros 80% podem acabar se tornando doentes crônicos e precisar, inclusive, de um transplante no fígado. Hoje a principal causa de cirrose e transplante hepático é a hepatite C, ultrapassando, inclusive, os casos causados pelo excesso de álcool.
“Infelizmente não temos vacina para a hepatite C, mas o SUS fornece medicamentos eficazes de tratamento, que oferecem possibilidade de cura de até 95% dos casos. Por isso é importante fazer o diagnóstico. Se a gente consegue tratar precocemente, não evolui para cirrose e tem menos risco de câncer de fígado por hepatite e o paciente também não vai para mesa de transplante”, ressalta a médica.
Já a hepatite B pode ser prevenida com a aplicação de vacina. Em Campinas, qualquer pessoa com idade até 49 anos pode ser vacinada, mas a médica lembra que é preciso tomar as três doses.
“Algumas pessoas esquecem de tomar as outras doses, mas é preciso tomar as três doses para a imunização completa”, ressalta a infectologista.
Tratamento
A médica Margaret Chan, diretora da OMS acredita que é hora de o mundo dar uma resposta efetiva a este problema. Segundo ela, com o tratamento correto, é possível se livrar da hepatite em dois ou três meses
“O mundo tem ignorado hepatite e é hora de virar uma resposta global contra esta doença semelhante ao combate de outras doenças transmissíveis, como o HIV e a tuberculose. Temos uma vacina contra hepatite B e tratamentos eficazes para a hepatite C com cura em até 3 meses”, ressalta a diretora da OMS.
A partir de iniciativa e propostas brasileiras, a Organização Mundial de Saúde (OMS), durante Assembleia Mundial da Saúde realizada em maio de 2010, instituiu a data de 28 de julho como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. Desde então, o Ministério da Saúde, por meio do seu Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde, vem cumprindo uma série de metas e ações integradas de prevenção e controle nos níveis de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) para o enfrentamento das hepatites virais no Brasil.
Prevenção
Existem várias medidas que podem evitar a transmissão das hepatites virais:
- Usar preservativo em todas as relações sexuais;
- Exigir materiais esterilizados ou descartáveis em estúdios de tatuagem e de piercings;
- Não compartilhar instrumentos de manicure e pedicure;
- Não usar lâminas de barbear ou de depilar de outras pessoas;
- Não compartilhar agulhas, seringas e equipamentos para drogas inaladas e pipadas, como o crack.
Vacinação
A vacina contra a hepatite B deve ser recomendada para jovens até 29 anos, para as populações vulneráveis* (em especial, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas) e para profissionais de saúde. É um direito e é a melhor forma de evitar a hepatite B. Essa vacina faz parte do calendário de vacinação da criança e do adolescente e está disponível em todas as salas de vacina do Sistema Único de Saúde (SUS) – cerca de 32 mil, no total. Todo recém-nascido deve receber a primeira dose logo após o nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida. Se a gestante tiver hepatite B, o recém-nascido deverá receber, além da vacina, a imunoglobulina contra a hepatite B, nas primeiras 12 horas de vida, para evitar a transmissão de mãe para filho. Caso não tenha sido possível iniciar o esquema vacinal na unidade neonatal, recomenda-se a vacinação na primeira visita à unidade pública de saúde. A vacina está disponível no SUS desde 1998.
A oferta dessa vacina estende-se, também, a outros grupos em situações de maior vulnerabilidade, independentemente da faixa etária.
Populações mais vulneráveis
Gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; pessoas com doenças sexualmente transmissíveis (DST); bombeiros, policiais civis, militares e rodoviários; carcereiros de delegacia e de penitenciárias; coletadores de lixo hospitalar e domiciliar; comunicantes sexuais de portadores de hepatite B; doadores de sangue; homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo; lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais; pessoas reclusas (presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, entre outras); manicures, pedicures e podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; populações indígenas; potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundidos; profissionais do sexo/prostitutas; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas e caminhoneiros.
Diagnóstico
No Brasil, enquanto a hepatite B é mais frequente na faixa etária de 20 a 49 anos, a hepatite C acomete mais pessoas entre 30 e 59 anos. A maioria dessas pessoas desconhece sua condição sorológica. No caso da hepatite C, por exemplo, há pessoas que fizeram transfusão de sangue antes de 1993 (quando não havia teste para diagnosticar a doença) ou que utilizaram seringas não esterilizadas que podem estar infectadas pelo vírus da hepatite C sem saberem. A hepatite é a inflamação do fígado, uma doença que nem sempre apresenta sintomas. Muitas pessoas só percebem que estão doentes (principalmente dos tipos B e C) quando as manifestações já são graves, como cirrose ou câncer de fígado. Esses pacientes levam anos para descobrir que estão infectados. Realizar o diagnóstico precoce das hepatites é um dos principais determinantes para evitar a transmissão ou a progressão dessas doenças e suas graves consequências. Os testes para as hepatites estão disponíveis em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: G1.globo.com
Bom artigo.