O Ceará iniciou um programa de transplante pulmonar em junho de 2011 e, a partir dessa data, passou a ser o único Estado do Norte/Nordeste a realizar esse tipo de transplante. Até 2011, os pacientes dessas regiões que tinham uma doença pulmonar grave em que o transplante de pulmão era a última e única opção de tratamento, ou iam em busca de tratamento no Sul/Sudeste ou o desfecho final era a morte. O País passara então, a partir daquela data, a ter o Ceará como referência, mais precisamente o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, para realizar transplante de pulmão dos cidadãos brasileiros residentes na regiões Norte e Nordeste.
Foram feitos no estado do Ceará 13 transplantes de pulmão (quatro em 2011, quatro em 2012 e cinco até setembro de 2013), dos quais três pacientes eram de outros estados (Pernambuco e Rio Grande do Norte). No mesmo período, morreram cinco pacientes que estavam em lista de espera, por não ter surgido um doador com pulmão que pudesse ter sido aproveitado, o que foi lamentado por todos nós e, principalmente, pelos familiares destes. Iniciamos uma caminhada e temos consciência da relevância do trabalho que estamos prestando à sociedade; em contrapartida, a sociedade tem que compreender a importância da doação.
O povo cearense tem feito a sua parte, haja vista que o Ceará em 2012 foi o terceiro estado brasileiro com o maior número de doação por milhão da população (21,4 doador/pmp), ficando atrás somente de Santa Catarina e do Distrito Federal, mas temos que ir em busca do primeiro lugar e continuar dando exemplo para o Brasil. O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde, tem melhorado a rede hospitalar com reforma de antigos hospitais e com a construção de novos hospitais regionais.
Apesar disso, ainda existe uma demanda reprimida de pacientes nos hospitais terciários, o que requer um esforço conjunto de órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde, as Secretarias da Saúde do Estado e do Município; da sociedade em geral e das entidades da área da saúde.
Em relação ao transplante de pulmão, uma vez que o Ceará é referência para a região N/NE, com população total contabilizada por volta de 70 milhões de habitantes, se fôssemos realizar um quarto do número de transplantes feitos nos Estados Unidos, que é 5,6 pmp (1753 transplantes de pulmão em 2012), o Hospital de Messejana teria que fazer em torno de 1,5 transplante por milhão da população, o que corresponderia a 105 transplantes por ano.
Esse é um grande desafio que lançamos para o Brasil, que hoje tem um grande dívida social na área de pulmão. Em 2012, realizaram-se somente 69 transplantes pulmonares. O governo brasileiro precisa investir muito no Ceará, que tem material humano e equipe multidisciplinar qualificada e pronta para enfrentar esse desafio.
Antero Gomes Neto
anterogn@terra.com.br
Coordenador do Serviço de Transplante Pulmonar do Hospital de Messejana
Fonte: O povo Online