O aumento da poluição, variações da temperatura e mudanças ambientais contribuem para o aumento da prevalência de doenças alérgicas relacionadas a fatores ambientais
Como o meio ambiente pode causar ou agravar doenças alérgicas?
A alergia é uma reação exagerada do sistema imunológico, que passa a reagir a fatores comuns como pólens, ácaros da poeira, proteínas de alimentos, medicamentos, entre outros, gerando doença. A consequência direta é o aumento do número de consultas ao médico, atendimentos de emergência, internações hospitalares, aumento do uso de medicamentos, faltas ao trabalho e à escola, diminuição da qualidade de vida e até mortes prematuras.
A doença alérgica tem uma base genética (hereditária) e que a manifestação e manutenção dos sintomas sofrem marcantes influências de vários fatores presentes dentro e fora dos ambientes nos quais moramos e trabalhamos.
Poluentes podem afetar o organismo de diferentes modos, seja pela inalação de partículas, pela ingestão como pela absorção através da pele.
Os grupos mais vulneráveis são as crianças e idosos, bem como as pessoas que já possuem problemas de saúde.
– Quais são os principais fatores ambientais relacionados as doenças alérgicas?
Atualmente, as pessoas passam boa parte do tempo dentro de casa, pelo acesso à tecnologia e conforto doméstico por um lado e aumento da violência urbana do outro. Além disso, as residências estão menores, menos arejadas, mais devassadas e com cortinas, carpetes e tapetes, aumentando o contato com o ácaro, o principal agente da alergia respiratória.
Os adultos passam permanecem mais tempo em recintos fechados, sobretudo no ambiente de trabalho. Edifícios selados, ventilados artificialmente por centrais de refrigeração, podem apresentar níveis elevados de poluentes químicos e biológicos, devido à baixa troca de ar interno/externo. As crianças iniciam cedo nas creches, permanecendo nas escolas em horários integrais, diminuindo sua vida ao ar livre.
– Poluição e doenças alérgicas
Poluição é uma alteração ecológica, ou seja, uma alteração na relação entre os seres vivos, provocada pelo ser humano, que prejudica direta ou indiretamente, nossa vida ou nosso bem-estar, como danos aos recursos naturais como a água e o solo e impedimentos a atividades econômicas como a pesca e a agricultura.
Pesquisas apontam que poluentes relacionados a mudanças climáticas podem tornar mais potentes os alérgenos (substâncias causadoras da alergia) transportados pelo ar, aumentando seu poder sensibilizante. Além disso, funcionam como irritantes da mucosa respiratória, permitindo maior penetração de alérgenos no organismo.
A asma e a rinite alérgica são doenças respiratórias e caracterizadas por um processo inflamatório crônico das mucosas das vias aéreas. Os poluentes do ar provocam ou acentuam uma inflamação na mucosa respiratória, fazendo com que o indivíduo produza mais secreção e diminuem a ação dos mecanismos naturais para a sua eliminação, favorecendo o surgimento de crises.
Contudo, os danos à saúde causados pela poluição vão muito além de problemas respiratórios e afetam também outros tipos de alergia.
– Causas de poluição
As principais causas de poluição ambiental são: tráfego intenso de veículos motorizados e indústrias. Os primeiros, pela combustão de gasolina, diesel, álcool, emissão de Carter, pneus, emissão evaporativa etc. As indústrias também queimam combustíveis derivados do petróleo, emitindo fumaças e outros poluentes por suas chaminés. A queima de resíduos a céu aberto é outro importante foco de poluição atmosférica. Todos esses produtos da queima de combustíveis são ricos em materiais particulados e gases poluentes: dióxido sulfúrico, dióxido de nitrogênio – que contribui para gerar o ozônio – monóxido de carbono e gás carbônico.
A poluição tende a aumentar nos meses de inverno tornando-se mais um fator de piora das alergias respiratórias nessa época do ano nas grandes cidades. Nesse período, ocorre diminuição na quantidade de chuva e ventos, que dificulta dispersão de poluentes.
Em alguns locais no Brasil, persiste o costume de atear fogo na vegetação seca de terrenos baldios, de praças não urbanizadas e nos resíduos vegetais resultantes da poda de árvores e capina, além das queimadas nas plantações de cana de açúcar. Um agravante é que esta queima costuma ser feita nos períodos que coincidem com seca e temperaturas mais baixas, sabidamente prejudiciais ao sistema respiratório. As condições atmosféricas naturalmente desfavoráveis, somam-se às queimadas, como causa importante no desencadeamento e agravamento das doenças respiratórias.
– Poluição ambiental e Mudanças climáticas
As mudanças climáticas e a qualidade do ar têm um forte impacto no agravamento da asma, da rinite e de outras doenças respiratórias sendo as pessoas alérgicas mais suscetíveis, em especial crianças e idosos.
O aumento maciço de emissões de poluentes atmosféricos devido ao crescimento econômico e industrial e ao aquecimento global se tornou um problema ambiental qualidade do ar primeira ordem em um grande número de regiões do mundo.
O aumento das concentrações de gases de efeito estufa, e especialmente o dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aqueceu o planeta substancialmente, causando ondas de calor mais intensas e prolongadas. Com isso, a poluição do ar aumentou, há mais incêndios florestais, períodos de seca e inundações. A variabilidade climática gerada pelo aquecimento global pode colocar a saúde respiratória da população em risco, sendo as pessoas alérgicas mais suscetíveis, em especial crianças e idosos.
As mudanças climáticas e a qualidade do ar têm um forte impacto no agravamento da asma, da rinite e de outras doenças respiratórias. O aumento maciço de emissões de poluentes atmosféricos devido ao crescimento econômico e industrial e ao aquecimento global se tornou um problema ambiental qualidade do ar de primeira ordem em um grande número de regiões do mundo.
– Poluição “indoor” ou em ambientes fechados
A vida moderna, em especial nas grandes cidades, faz com que as pessoas passem cerca de 90% do tempo em ambientes fechados, como: residências, escola, trabalho, shoppings, cinemas, etc. Edifícios fechados com ar refrigerado contínuo são a realidade hoje, para adultos e crianças.
As principais fontes de poluição interna que podem causar dano ao organismo humano e provocar doenças, em especial no aparelho respiratório, são: fumaça de cigarro, gases de cozinha, lareiras, sistemas de refrigeração. Compostos voláteis contidos em produtos de limpeza, produtos em aerossol, preservativos de madeira, pisos, tintas, solventes, colas, etc. Além disso, citam-se também fatores biológicos, como os ácaros da poeira, fungos, epitélios animais, baratas, etc.
Dentro de casa, os principais fatores são: a fumaça de cigarro e os poluentes biológicos, em especial os ácaros da poeira domiciliar. Ácaros são microscópicos, ou seja, invisíveis a olho nu. Pertencem à família dos aracnídeos e possuem quatro pares de patas como as aranhas. Alimentam-se da descamação da pele das pessoas e dos animais, preferem ambientes úmidos e escuros.
– Os pólens tem importância no Brasil?
O Brasil, por ser um país tropical, não possui estação polínica bem definida. Ácaros são a causa mais comum das alergias respiratórias. Contudo, em algumas regiões do sul do país, em especial Paraná e Rio Grande do Sul, o Azevém (Lolium multiflorum) é citado como causador de alergia.
Recentemente, verificou-se que o desmatamento de espécies nativas e as novas técnicas de agricultura e pecuária, está ocorrendo aparecimento de gramíneas com potencial de causar alergia em outras regiões. É provável que as mudanças climáticas e o aquecimento global promovam aumento da biomassa de polens gerando um tipo de doença polínica de características diferenciadas.
– Quais medidas tomar em casa e no trabalho para melhorar a qualidade do ar?
- Limpar a casa diariamente com pano úmido, evitando produtos de limpeza com odor ativo.
- Manter animais de estimação fora de dormitórios, camas e estofados.
- Abrir janelas diariamente. Ambientes arejados e ensolarados não favorecem ácaros e fungos.
- Evitar odorizadores, sachets, incensos e perfumadores de ar.
- Não fumar e não permitir que fumem dentro de casa.
- Combater focos de mofo, infiltrações e umidade.
- Não deixar o carro com motor ligado na garagem, mesmo que a porta esteja aberta.
- Medidas de proteção contra a poluição e pólens
- Mantenha seu tratamento de controle, mesmo que esteja bem. A doença controlada permite uma maior resistência à provocação dos fatores ambientais.
- Dietas ricas em frutas e verduras podem contribuir para reduzir os efeitos nocivos da poluição.
- Evite corrida ou atividades físicas em locais próximos a vias de grande tráfego.
- Mantenha limpo o ar condicionado do carro.
- Sempre que possível, evitar horários de engarrafamentos e utilizar vias com menor fluxo de automóveis.
As doenças alérgicas são multifatoriais e a poluição tem um papel no seu aparecimento/agravamento. Controlar a poluição contribui para a prevenção de crises e do agravamento de doenças já existentes.