O controle da dengue, zika e chikungunya ao nosso alcance.
Há 25 anos, uma doença assolou a Chapada da Ibiapaba: era a silicose em cavadores de poços. Doença devastadora de pulmões, era adquirida de modo circunstancial, pelo fato de na região não haver fontes naturais de água e pelo fato de as ações governamentais de combate aos efeitos da seca patrocinarem a prática de escavar poços artesanais para a obtenção desse líquido.
Essa epidemia ceifou a vida de 200 homens na faixa etária dos 40 anos e ameaçou a de outros 1.200. Não tinha cura nem meios de controle da produção da poeira venenosa respirada no fundo do poço, por aqueles homens. (Holanda et al. Silicose em cavadores de poços da Região de Ibiapaba (CE): da descoberta ao controle. J Bras Pneumol. 1999.)
Uma medida adotada e embasada no método educacional “Conscientização”, de Paulo Freire (Cortez & Moraes 1979), usou a decodificação da doença por comunicação de massa (pelo rádio), de grupo, por reuniões comunitárias, e individual, feita de pessoa a pessoa. Conseguiu, com a parceria dos próprios cavadores, atingir um estado de conscientização dos malefícios da poeira e da atividade que terminou por se quebrar definitivamente o ciclo epidemiológico dessa doença.
Guardando as proporções, vejo esse método como capaz de controlar a dengue e doenças provocadas pelos vírus zika e chikunguya, todas de um só feito, pelo controle do ciclo biológico do seu vetor, o Aedes aegypti.
Essa hipótese baseia-se numa intervenção coletiva em que os atores desse processo seriam os próprios cidadãos, orientados via TV, rádio e redes sociais em horários nobres (noticiários, programas policiais e outros, ou todos), pelo Sistema de Saúde e que se organizariam em grupos, por rua, e quarteirão de nossa cidade. Um representante de cada prédio, casa ou casa de conjunto habitacional formaria os grupos que disseminariam a informação e o método de controle entre todos os demais conviventes (os moradores desses espaços).
As instruções abalizadas do Sistema de Saúde ficariam disponíveis nas redes sociais para mais orientações sempre que necessárias. De modo exponencial, esse conhecimento se disseminaria e evoluiria para um amplo e permanente controle, promovido por essa parceria do Sistema de Saúde e os cidadãos.
Um balanço periódico se faria para avaliar os resultados, dificuldades encontradas ou fazer alterações do método.
Não precisaria de muito tempo para se mapear todas as áreas de focos do Aedes, e interromper-se o ciclo epidemiológico das doenças. As ações e avaliações seriam feitas de acordo com cada necessidade, nível de educação e situação socioeconômica dos grupos.
Seria uma autogestão dos nossos próprios destinos, rica de atitude cidadã utilizando a educação e a comunicação de massa como ferramentas poderosas para o controle de doenças.
Dra. Márcia Alcantara Holanda
Médica Pneumologista
Coordenadora da Comissão de Asma da SCPT
pulmocentermar@gmail.com
03 Dezembro 2015 – Fonte: O povo