Fidípides, “o meu pé”, que estava preso à cadeira de rodas, muletas e bota, após ter sido desmembrado da perna (O POVO de 3/4/2014), libertou-se para andar e ganhar o mundo de novo. Tomou um susto quando seu médico o ordenou a andar sozinho. A primeira reação foi de querer dar um grande abraço no médico, mas ficou foi atônito, se pôs a tremer, por estar despido e plantado no chão, sozinho. Quis chorar, mas riu ao se ver tremendo e desequilibrado sem saber andar. Pregado ali no chão, num misto de susto, alegria e medo, imaginou em pensamento o quanto Lázaro morto e sepultado, deverá ter ficado desorientado quando Jesus o ordenou: “Lázaro vem para fora… desatai-o e deixai-o andar” (João 11, 43,44).
A sensação da libertação inesperada é perturbadora, porque provoca a necessidade de enfrentamento de nova realidade da vida, pensou Fidípides. Propôs-se ao enfrentamento de aprender a andar de novo. Seus primeiros passos na rua foram em direção ao local do sinistro, querendo ver de perto aquela calçada arrancadora de pés. Percorreu cem metros, apesar do custo, cada passo dado com cuidado redobrado, pois convalescente, era difícil locomover-se sobre calçadas tão irregulares. Entretanto, insistiu nesse intento.
A primeira delas era de cimento, que se não estivesse tão esburacada, poderia ser uma calçada ideal (sem inclinações e totalmente antiderrapante). Seguiram-se as de pedras portuguesas: monótonas, em preto, branco, mal arrumadas, formando torpes triângulos, hexágonos desiguais, numa afronta às proposições do geômetro Tales de Mileto,(Sec. VI a.C) (Andrew PR.1998). Soltam-se: são armadilhas perfeitas para a degola de dedos, enganchamento de saltos, quedas de joelhos, mãos, rostos e crânios ao chão. Um terror para cadeirantes, pela trepidação e destroncamento de rodas. As entradas de garagens eram todas inclinadas, sem espaço plano para os pedestres.
Chegou à sua calçada carrasca: branquinha, lisinha e inclinadíssima! Poder-se-ia dizer, de longe que era de azulejo, pronta para um golpe baixo nos pés dos pedestres. Viu-se então paralisado na borda do meio fio, fora da perna e partido. A dor foi pungente. Mudou o pensamento e desejou levar uma mensagem aos cidadãos dessa cidade: “Uma calçada só precisa ser plana, antiderrapante, segura em suas dimensões e mais nada: pedir que se aplainem as de pedra portuguesa.”
Sonhando, nem vacilou: pediu emprestado as sandálias aladas do mito grego Hermes, (Junito JS. Mitologia Grega – vol.II, 195) e partiu como raio nessa missão, por calçadas mais dignas e seguras para todos.
Dra. Márcia Alcantara Holanda
Médica Pneumologista
Coordenadora da Comissão de Asma da SCPT
pulmocentermar@gmail.com
Fonte: O povo